O tempo
- Lorenzo Franchi
- 10 de jul. de 2017
- 2 min de leitura

Só mais cinco minutos. Nossa!? Perdi as contas de quantas vezes já supliquei por esse tempo, e, até mesmo ouvi... Nesse período de recesso das aulas da faculdade em uma das tantas voltas para casa no ônibus abarrotado, a cabeça pesada e os olhos cansados me levaram longe, em uma viagem no tempo.
O tempo. Ora vilão, ora amigo, um aliado. As luzes dos carros parados na Avenida Presidente Vargas, rasgadas pela velocidade das motos, que costuravam entre os vãos, contrastadas com a monotonia das calçadas me fizeram perceber o que é tão óbvio: o tempo passa diferente. Diferente em muitos aspectos.
Quando estamos felizes, torcemos para que este dia seja eterno, e, ele será. Na lembrança. Quando estamos tristes, amargurados buscamos nos ponteiros motivos que tragam a felicidade. A chegada de um amigo, o horário de saída, o dia da formatura, a alta do hospital. Quando somos crianças o tempo é só mais um amigo que se junta para brincar, afinal tudo é festa, tudo é divertido. Na fase adulta o tempo é sorrateiro, vem acompanhado de números: 30 dias, salários, boletos e contas. Na melhor idade, o tempo é uma conquista, com traços, histórias e também incógnita. O tempo passa... Diferente.
Em uma entrevista recente conversei com o “mais antigo ferroviário vivo de Santa Maria”. Um senhor bem humorado, que ostenta com orgulho esta alcunha. Basileo Freitas, quase 90 primaveras, sendo mais de 40 delas em cima de linhas, malhas e vagões que faziam do apito (do trem) um sinônimo de vida. Esse senhor, Basileo Freitas, contou-me das epopeias viagens, do orgulho ao ver a carga chegar intacta, ao transportar passageiros e em ligar estados (RS-SP).
Mas mais do que falar sobre trens, saudades e da cidade de Santa Maria, Freitas foi franco, e, sorrindo disparou: “esse cargo que tenho hoje é passageiro (mais antigo ferroviário vivo de Santa Maria). Amanhã outro será o mais antigo. Eu tenho que aproveitar e manter meu legado, passar para outras gerações”. Fiquei pensando sobre. Afinal, qual o nosso legado? Qual o meu legado?
Estudar, trabalhar, ser bom pai, filho, amigo, paciente e buscar sempre manter as bochechas fartas de covinhas... Não sei (cada um sabe sua resposta).
Aquele senhor que fez do decifrar e emitir Códigos Morse, desde os 16 anos, uma profissão, amadureceu com as viagens e entendeu o tempo como uma oportunidade.
Às vezes, deixamos para depois o que é imprescindível, e pode ser tarde. O tempo passa diferente. É preciso valorizar o passado, entender o futuro e viver o presente, sem aquela velha desculpa: só mais cinco minutos.
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