O maior exemplo vem de casa
- Lorenzo Franchi
- 7 de abr. de 2017
- 3 min de leitura

Pense no ano de 1964. Período conturbado por conflitos militares. Some a isto dificuldades de morar-se no interior de Silveira Martins, aonde os caminhos de chão batido conduzem a uma comunidade de casarões de pedras sem água encanada e tampouco iluminação elétrica.
As famílias eram numerosas, não “porque não tinha televisão” e o único passatempo dos casais era “namorar”, mas para melhor produzir, pois com mais filhos, maior seriam as plantações, mais seriam as mãos para empunhar enxadas.
Nesse tempo, em que as relações humanas eram intensas, no dia 7 de abril, veio ao mundo uma menina iluminada por anjos, com habilidades divinas e de rara consciência. Ela seria a primogênita de uma família, a irmã mais velha de outros dois irmãos, Jusseli e Jussimar. Seria também braço direito, amiga, cozinheira, professora, mãe, tia e exemplo.
Antes de completar 10 anos a pequena saiu de casa para poder estudar. A escola da comunidade era precária, longínqua. Fazia chuva ou não, ao cair do sol, todas as crianças se punham a trilhar um caminho ao luar. Até a quarta série foi ali, em um sala modesta, em que classes dividiam espaço com toneis de milho, ração e venenos. Após, a educação seria no convento de Vale Vêneto, longe de casa.
Sem o calor dos pais e com a responsabilidade de cuidar de meninas mais novas, acordava cedo. Na companhia das estrelas levantava para tirar leite. O galo, coitado, perdeu o posto. O relógio marcava 5 horas e os jarros estavam cheios, prontos para o café.
As manhãs e tarde foram regadas a estudo e as noites voltadas a ajudar na cantina, tempo de lavar a louça, fazer pães, bolachas e geleias. Só depois dormir.
O tempo passou, a menina cresceu, virou mulher. Com “Foco, força e fé” ganhou novos ares, mudou-se para Santa Maria. Na cidade grande queria concluir o ensino médio, ser professora e constituir família.
Em um turno estudava, no outro, como de costume, trabalhava. Foi sempre assim até o final da graduação.
A mulher casou, ganhou um novo sobrenome, três filhos e se separou. Com uma ousadia invejável construiu uma casa, sem nenhum real no bolso. Só tinha fé. Ainda se emociona ao lembrar do dia que fez a proposta ao pedreiro, “todos achavam que eu estava louca”, ela brinca.
Como professora fez/ faz do seu dom base para um mundo melhor. Transmitir conhecimento não é fácil. Mas ela é mágica, pois convida criança a juntar vogais em consoantes, formar palavras, ler e escrever. Nada é difícil para ela- basta olhar sua trajetória. Que profissional se traje de Branca de Neves, de urso, de fada para contar histórias? Creio que poucos.
Como se não bastasse a rotina escolar, carrega uma alcunha invejável: ser mãe solteira de trigêmeos. As fraldas de pano lavadas em punho, as mamadeiras, os remédios, as brincadeiras, os colos, tudo vinha dela. Não foi só mãe, foi pai também.
Depois de tantas glórias e provações, a vida lhe pregou mais uma peça. Em 2015, foi diagnosticada com câncer maligno na mama direita. Fichinha. Quimioterapias, radioterapias, nem mesmo a queda de cabelos abalou. Ela venceu de novo.
Hoje, recuperada segue fazendo das salas de aulas e do dia-a-dia palco do saber, para educar crianças e emocionar famílias.
Marisa Medianeira Franchi Rodrigues. 53 anos. Mãe da Luíse, do Lorenzo e do Nícolas. Minha mãe. Minha guerreira. Nosso maior exemplo. Estes trechos retratam um terço da sua magnitude, mas esboçam o tamanho da nossa admiração. Meus parabéns por ser quem tu és.
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