Bola em jogo
- Lorenzo Franchi
- 27 de jul. de 2016
- 2 min de leitura

Sexta-feira é o dia esperado. Aqueles minutos que demoram a passar, as voltas intermináveis do ponteiro do relógio, à espera que para alguns demoram mais, outros menos, mas o final de semana sempre chega. Uns fazem festa, saem, conhecem pessoas novas, ambientes novos, bebem, se divertem. Eu queria relaxar, ao meu jeito.
Todo menino, pelo menos no meu bairro, teve o sonho de ser jogador de futebol. Andar de bicicleta, jogar taco, esconde-esconde eram brincadeiras preferidas, mas “a coisa ficava séria” quando havia uma bola e alguns pares de perna para cada lado.
As ruas eram feitas de estádios, as pedras as goleiras, nós, eu, meu irmão e quatro amigos, os craques.
Cresci ouvindo histórias, feitos, epopeias distantes. Afinal, eles, os jogadores, estavam do outro lado da “caixa preta”, a televisão. Palco de outra dimensão para mim, naquele momento. Ouvia falar da magia de Falcão, da genialidade de Zico, do imprevisível Bebeto, de Rai. Tantos que marcaram gerações. Vi consagrados, se consagrarem.
Jogava por amor, porque queria ser como eles: respeitado, ídolo de uma nação. O tempo passou, a brincadeira ficara séria. Tinha fome de bola. Baixinho, perspicaz, e veloz, estas eram minhas armas para driblar os “nãos” da dona Marisa, passar pelos zagueiros das notas e fazer gols, muitos gols.
Aquelas sábados, domingos, não voltam mais... Mas deixaram saudades.
Troquei as chuteiras por cadernos, à bola pela caneta. Passei a estudar. Os livros se tornaram inseparáveis. A brincadeira, o sonho, ficaram distantes...
Neste domingo, fui correr com meu irmão. Próximo ao centro, avistamos um amigo dos tempos de colégio, o qual nos convidou para jogar, tal qual, fazíamos quando crianças. Não era na rua, mas o espírito era o mesmo.
Campo de comunidade, escola de jogadores. Dois gols ou dez minutos. Nossa! Quanta tortura. Não queria jogar, fui convencido. Joguei. Dei chapéus, janelinhas, fiz até gol. Meu irmão também fez grandes partidas. Gastou a bola, como se fala na gíria, que inclusive rasgou o tênis, para graça de todos.
Após nos despedirmos dos novos e antigos amigos, voltei para casa sorrindo. Uma porque meu irmão estava descalço, outra porque percebi que meu sonho pulsa no coração de outros meninos. Pode apitar, seu juiz. Bola em jogo.
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