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Da caixa para o coração


Todos temos uma história pela qual vamos lembrar à vida inteira. Aquele conto que passará de geração por geração tem sempre um novo capítulo, um paragrafo, uma frase, uma palavra, um “revival” que faz dela a narrativa preferida.

Ter irmãos é uma dádiva, imagina quatro. Pois é, não é todo dia que uma pequena guerreira dá a luz a trigêmeos, dois meninos e uma menina. As outras irmãs, mais novas, são frutos da "solteirice aguda" de meu pai.

Nossa infância foi permeada de brincadeiras, agitos, estripulias, “artes” e barulho, muito barulho. Confesso, tenho breve contribuição aos fios brancos, ou quem sabe, aos cabelos em pé de minha mãe. Afinal, foi ela quem nos criou sozinha.

Assim como toda criança era movido por meus sonhos. Sou até hoje, inclusive. Queria ser cantor, mas não sabia cantar. Queria ser jogador de futebol, mas segundo especialistas, era muito pequeno. Vou ser jornalista, diplomado. Mas não vou me deter a isto, não agora.

Que criança com oito anos já idealiza sua carreira profissional? Creio que nenhuma. Naquela altura, elas (todas) querem carinho, ir à escola, ter um lar, ter amigos e ter um animal de estimação.

A dona Marisa, minha mãe, embora “cachorreira”- pessoa que ama cachorros, era contrária a adoção de um “bichinho”, pois acreditava que daria muito trabalho e por termos o dia corrido, com aulas pela manhã e tarde não daríamos devida atenção.

Em uma bela tarde, fui levado pela nossa “tata”- como eu e meus irmãos apelidamos a nossa cuidadora/ babá, ao dentista. Na volta para casa, como não tínhamos carro, nos dirigimos à parada, mas atrasados, perdemos o coletivo. Só restava esperar o próximo.

Em uma época que celulares eram muito caros, as conversas pessoais “estavam na moda”. Para fugir do sol escaldante e continuar o bate-papo, entramos em uma casa rural. Coelhos, gatos, hamster e cachorros. Uma infinidade de produtos e bichos.

“Não toque nos animais”, dizia a placa. Quebrei as regras. Assanhei-me com uma filhote de Pastor Belga mestiço. Não demorou muito para o recepcionista perceber, que sorrindo me disse ”pode brincar, o dono saiu”.

Cinco minutos mais tarde, me despedi do cachorro, pois o ônibus chegara.

Em casa, entusiasmando, comentei com a minha mãe e irmãos sobre a experiência e argumentei: “está para doação, mãe. É de graça. Nós cuidamos, eu juro”.

Três dias depois, no sábado, em meio ao almoço, fomos surpreendidos com uma buzina seguida do chamado: "encomenda para Nícolas, Lorenzo e Luise”.

Meu Deus, o que será? Quem nos mandou? perguntávamos.

Ao chegar na frente de casa, o motoboy colocou a caixa no chão e disse ”cuidado quando abrir, é perigosa”. Assustados e curiosos, abrimos... Era aquela bola de pelos pretos e brancos que havia brincado dias atrás.

Ah, era véspera de Páscoa. A partir disto, nós três, demos outros significados as palavras, amor, carinho, cuidado e companheirismo.

Hoje a Kika, nossa amiga é um membro da família. Ao longo destes 12 anos enfrentou conosco todas as barreiras e desfrutou do deleite da felicidade. Kika, saiu da caixa para morar em nossos corações.


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Um transeunte

 

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