Valor do Coração
- Lorenzo Franchi
- 29 de jun. de 2016
- 2 min de leitura

Na vida criamos laços. Alguns se perdem, enfraquecem, outros perduram por uma vida. Fazem história, contam histórias.
Encontrar pessoas pelas quais podemos chamar de amigo não é fácil. Tímidos, risonhos, calados, fiéis. Cada um com sua particularidade, com sua essência. Muitos se prendem a ti por mútuos interesses, raros ficam. Estes é preciso valorar.
Tenho certa paixão pelas ruas, pela vida que transita nelas. As vias são repletas de detalhes, nuances, palco de muitas lições. Basta observar.
Toda noite volto para casa após a faculdade, já cansado da correria do dia-a-dia. Subi a Rua Dr. Bozzano, no Centro de Santa Maria “encolhido”, sedento pelo aconchego do lar. Era terça-feira, 23 horas passadas, os estabelecimentos estavam fechando, talvez um ou dois ainda esperassem o último cliente sair.
Ao chegar no calçadão, me deparo com uma cena quase indescritível: Um senhor, bem arrumado acabara de entregar para um morador de rua uma coberta velha, uma jarra de café e um Xis. Com poucas palavras o Florzinha, como assim era conhecido o mendigo- pois colocava todos os dias, uma flor no lado esquerdo do casaco- agradeceu.
Sentado na famosa galeria da “Boca Maldita”, ele assoviou, tirou três potes de dentro de uma sacola e chamou seus companheiros de jornada, três cachorros. Em partes iguais, dividiu o lanche em quatro pedaços.
Após se alimentar, arrumou seu “ninho” e, como retribuição dos seus amigos, foi aquecido. O xis podia ser seu único alimento do dia, mas, mesmo assim, fez questão de compartilha-lo. Hoje, o homem não atende mais por Florzinha. Saiu das ruas para dar um lar aos três fiéis companheiros.
Em uma tarde, a última que o encontrei, perguntei sobre o fato e, sorrindo, me respondeu:
- Aprendi que não somos nada sozinhos. Eles eram minha família naquele momento.
Não é ouro, ou prata. Nosso valor está nas atitudes e no coração.
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